quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Entrevista exclusiva com a atriz Giselle Tigre ao Brasil Sem Preconceito


Recife, capital de Pernambuco, é uma cidade que faz parte das mais visitadas do Brasil; de rica cultura, culinária diversificada e, principalmente, de muitos talentos, como a atriz Giselle Tigre, que dá vida à Marina, personagem da novela Amor e Revolução, que fez história na teledramaturgia ao protagonizar o primeiro beijo gay de uma telenovela no Brasil. Formada em Jornalismo, Giselle também é cantora e modelo, e teve sua primeira experiência em uma telenovela aos 27 anos, em Malhação, da Rede Globo, em 2000. Hoje, em Amor e Revolução, ela vive uma personagem cheia de nuances, e que marcou a vida da atriz, que se sente muito satisfeita com o seu trabalho na novela. Confira a entrevista completa:

Brasil Sem Preconceito: Você interpretou a professora Linda em “Malhação”, entre 2000 e 2003, e agora, em 2011, dá vida à jornalista Marina, na novela “Amor e Revolução”. O que você aprendeu com cada personagem?
Giselle Tigre: Malhação foi a minha primeira experiência em novela. Eu tinha 27 anos quando fiz este trabalho, mas já trabalhava desde os 14 anos fazendo teatro e sendo modelo fotográfico. Sempre tive muita intimidade com a câmera. Mas a tv tem uma linguagem própria. Observava meus colegas e assistia as cenas no ar pra ver como tinha ficado. Aos poucos eu fui ficando mais segura. Nas primeiras cenas, tropeçava nos tapetes do cenário. Muito tempo depois veio Amor e Revolução, estava bem enferrujada e tive um pouco de medo. O diretor Reinaldo Boury dava tapinhas na minha testa que franzia quando eu falava. Comecei meio insegura, mas depois peguei o tom. A Marina exigiu muito esforço mental e emocional, terminei o trabalho exausta, mas muito entusiasmada. Amei este personagem. Amei dar vida a esta mulher tão cheia de nuances e surpresas.

BSP: A Marina possui diversas nuances e se mostra muito confusa desde o início da novela, demorando muito a perceber que o Thiago (Mário Cardoso) não era quem ela imaginava e, mais ainda, a ceder às inúmeras tentativas de conquista da Marcela (Luciana Vendramini). Você acha que ela deveria ter agido de maneira diferente?
GT: Acho que a Marina foi super coerente com seus sentimentos. Foi até fácil construí-la. Foi orgânico, principalmente nos maiores conflitos dela foi fácil pra mim chegar junto do sofrimento que ela passou, eu chorava fácil, me emocionava, como se tomasse aquilo pra mim. Eu me emocionava com tudo. Estava totalmente entregue a essa mulher. Eu chorava passando texto nas cenas de sofrimento, chorava nos ensaios com a camera e chorava depois gravando de fato. O Boury falava, não chora agora não, e eu dizia que não conseguia não chorar. Deixei os maquiadores loucos me retocando toda hora! 

BSP: Na história da teledramaturgia houve inúmeras chances de se mostrar o amor homossexual da mesma maneira que um romance heterossexual, como acontece na realidade, com beijos, carícias e cenas de amor. Você acredita que se o primeiro beijo gay tivesse ocorrido há 10 anos atrás, hoje seria comum se ver esses relacionamentos da maneira como são em nossas novelas, ou precisamos de mais tempo para que a sociedade brasileira compreenda que beijo gay não é tabu, e sim, realidade? 
GT: Sem dúvida, demorou muito para só agora aparecer uma relação homoafetiva de verdade em novelas. Não acho que dá pra abordar o tema do mesmo jeito que é mostrado com as relações heterossexuais. Tem que ser mais sutil mesmo. Tem que prevalecer o bom gosto. É super normal haver rejeição. É algo novo para a maioria do público televisivo. Acho muito exagerado, porém, matar personagens de uma novela só porque são homossexuais e também não dá só pra ficar mostrando o esteriótipo gay. Nem muito menos mostrar bitoquinhas entre casais do mesmo sexo. Tinha que evoluir pra algo além e o Tiago Santiago fez isso.   



BSP: Você declarou em algumas entrevistas que havia construído amizades dentro do núcleo da novela, inclusive com a sua parceira de cena Luciana Vendramini. Você ainda mantém contato com muitos dos seus ex-colegas de trabalho?
GT: Sim, fiz amigos para sempre neste trabalho e a Luciana é uma delas que levarei no coração. Tivemos muita sorte de nos afinarmos tão bem. A Joana Limaverde (a Stela) é outra querida que frequenta minha casa e nossas filhas que têm a mesma idade são amigas.


BSP: Em 2010, houve mais de 200 mortes por homofobia no Brasil, e pesquisas mostram que esse número vem sendo crescente. Você é a favor de se criminalizar a homofobia, assim como se fez com o racismo, hoje um crime inafiançável e imprescritível pelo nosso Código Penal?GT: Sou super a favor, claro!


BSP: Apenas em 2004 tivemos uma atriz negra (Taís Araújo) como protagonista de uma telenovela, e somente em 2011 pudemos presenciar uma cena de paixão verdadeira entre homoafetivos. Na sua opinião, por que um país que é tão diversificado se mostra, ao mesmo tempo, tão preconceituoso? E o que você acredita que se precisa mudar para termos um Brasil sem preconceito?GT: Acho que é botando a “boca no trombone”, literalmente, que se rompem barreiras. Com ousadia e coragem. A arte é um ótimo veículo para isso. Esta semana comprei a edição de outubro da revista Trip com um casal gay se beijando na capa. Minha filha olhou e disse: “olha mãe, dois homens se beijando!” E eu disse, naturalmente: “é, minha filha, eles se gostam e formam um casal”. Quando cidadania for algo realmente consciente, a sociedade brasileira estará no caminho do amadurecimento.






Bate-bola:

Você se considera mais atriz, jornalista ou cantora? Essa é a pergunta que não quer calar (risos). Quando posso fazer as duas coisas juntas, cantar e atuar, estou num céu de diamantes. Considero-me uma atriz que canta. A música pra mim é tudo e não sei viver sem. Viver de música é um sonho que quero um dia realizar. Nunca pude me dedicar só a esta arte. Formei-me em jornalismo, mas nunca exerci esta profissão de fato. Mas gosto muito de escrever e ano que vem publico meu primeiro livro infantil.
Um medo: Da violência, da intolerância , da ignorância. Essas coisas todas são causadoras de muito sofrimento no mundo.
Um sonho ainda não realizado: Tocar um instrumento.
Um sonho que se realizou: Montar o espetáculo infantil Agora é Tempo.
Um lugar que gostaria de conhecer: O Brasil! De cabo a rabo, de preferência com meu espetáculo infantil.
Uma pessoa que gostaria de conhecer: Dalai Lama.
Uma bebida: Água de coco.
Uma mania: De arrumação.
Recife, São Paulo ou Rio de Janeiro? Os três!
Você é mais racional ou passional? Hoje, aos 39 anos, sou mais racional.
Um ator e uma atriz: Tony Ramos e Glória Pires
Um filme marcante: O Fabuloso Destino de Amelie Polin.

Marina por Giselle: Uma mulher justa, romântica, contraditória e apaixonada.
Giselle por Giselle: Sou um ser zen por natureza que treina diariamente ser bom e fazer o bem. Às vezes eu consigo.Um recado para os fãs que acompanham o site.
Quero agradecer imensamente pelo carinho e elogios a este trabalho. A maior recompensa é saber que muitas pessoas se identificaram com o drama da novela. Sem dúvida, Amor e Revolução foi um marco na minha vida. Conheci pessoas ótimas e me trouxe o contato com o público novamente. Desejo a felicidade de todos, dias melhores virão para o Brasil e o mundo. Vamos trabalhar para isso. A mudança começa com um pequeno gesto, de dentro para fora. A gente começa mudando a gente pra depois mudar o mundo.

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